29.10.06

11.3.06

Jornal do Brasil II

"Um romance que chama a atenção pela qualidade do texto. A paixão de Amâncio Amaro é obra que evoca reverências e influências, mas que se sobrepõe à mera homenagem.
[...]
A cor local da vila nordestina onde a história se desenrola é disposta com humor, através de exageros e discrepâncias entre o cotidiano e a vivência dos personagens, mas os exageros não cedem à tentação do estereótipo e se mantêm verossímeis, embalados por imagens precisas, que convidam o leitor urbano a se sentir confortável nessas terras estranhas.
[...]
O livro pode trazer a visão irônica do Nordeste por alguém que se distanciou e não vive mais nele, mas a linguagem é autenticamente local e fluente. Assim, o escritor faz rir [...] mas também sabe traduzir o conhecimento de quem vive na aspereza e demonstrar que neles também existe sonho e humor, mesmo construídos sobre ossos e pedras."

Leia a íntegra do texto clicando aqui.

Alexandre Amorim, edição de 4 de março de 2006

1.2.06

IstoÉ Gente

" [...] Laurentino se esmera em sua prosa, de certa forma pernambucana, mas sem cair em expressões regionalistas do interior do Estado, onde se passa a trama, para onde viajou em busca de inspiração e de pazes com o passado. Conseguiu muito mais. Retrata com ternura e alegria, porém sem perder a tristeza e a força da dureza de palavras concisas, os temores que vivem dentro de todo homem."

Leia a íntegra do texto clicando aqui.

Edição de 6 de fevereiro de 2006

11.1.06

Correio Braziliense

"André Laurentino é um desses poetas que não se prendem a versos. Estende-se sem cerimônia pela prosa, usando a língua portuguesa como instrumento lúdico para seduzir quem o lê. Isto é perceptível desde as primeiras linhas de A paixão de Amâncio Amaro.
[...]
[Laurentino] contrapõe o colorido da cultura nordestina ao cinza das dores inerentes à condição humana; o trágico e o humor rasgado. A relação de seus personagens entre si e com o mundo é carregada de simbolismos, desvendados aos pouquinhos ao leitor e constituindo um dos aspectos mais fascinantes da obra. [...]"

Edição de 7 de janeiro de 2006

7.1.06

Jornal do Brasil

"[...] Não bastasse um trabalho de caracterização tão maduro para um livro de estréia, Laurentino, que tem 33 anos, ainda extrapola, já que o ponto alto do livro, sem dúvida, é a linguagem, o esmero na escolha das palavras, o encadeamento das frases, a beleza da sonoridade do local.
[...]
A história se passa no sertão pernambucano, tem as cores pastel e os assobios de lá, mas os personagens carregam em suas dores as dores de todo mundo, qualquer mundo, sertanejo ou urbano, e é nessa universalidade dos sentimentos que alcança o status de grande livro".

Leia a íntegra do texto aqui.

Flávio Izhaki, edição de 05 de janeiro de 2006

6.1.06

Estado de S. Paulo

"De olho no lirismo perdido do sertão.
[...]
Apesar do bom humor transbordante, [Laurentino] esconde um rasgo de tristeza na odisséia particular de cada um dos três personagens principais. Amargor que amadurece a obra, sem nenhum 'entretanto'."

Edição de 17 de dezembro de 2005

Portal Literal

"Um dos mais esplêndidos livros da geração 00"
Clique aqui para ler a entrevista.

Folha de S. Paulo

"O autor brinca com elementos regionalistas e cria uma narrativa estilisticamente bem construída e com toques de originalidade. Estréia elogiada por, entre outros, Adriana Falcão. Um nome de recente safra literária a ser observado."

Edição de 10 de setembro de 2005

Revista Bravo!

"Apesar de ser um romance de estréia, o livro já apresenta uma linguagem madura e vigorosa, capaz de criar um universo todo particular em lirismo e humor.

Ao conceber a cidade em que se passa a trama, o autor compõe um cenário que remete ao sertão de Pernambuco, mas que mantém algo de universal pelo olhar dedicado ao gênero humano."

Edição de setembro de 2005

Bate-papo no UOL

Clique aqui e veja a íntegra da conversa.

Quarta capa

Um garoto com mais de cinquenta nomes, uma menina que inveja a beleza do próprio reflexo e um homem enternamente disfarçado. Três personagens e um mesmo impasse: descobrir a própria identidade. A Paixão de Amâncio Amaro conta a graça de tipos sensíveis, mas incapazes de entender o que sentem. Com um lirismo perdido em pleno sertão brasileiro, os protagonistas do romance de estréia de André Laurentino são cômicos e trágicos. E se confundem numa sucessão de reviravoltas narradas em ritmo acelerado, combinando delicadeza e muito bom humor. Ao brincar com elementos da tradição regionalista, mas deslocando seus problemas, A Paixão de Amâncio Amaro revela um escritor original e, mais do que isso, recupera o gosto das histórias bem contadas.

Orelha

A paixão de Amâncio Amaro é paixão que não acaba: pela frase, pelo estilo, pela imagem, pela língua portuguesa, pela condição da gente, pela soma disso tudo, uma paixão corajosa e surpreendente, “queria novidade? Então tome”.

Aos leitores desavisados, atenção! Não satisfeito em nos capturar logo de início, André Laurentino se põe a brincar com a gente, sem a menor cerimônia, surrupiando risos, soluços, gargalhadas, revirando os sentimentos mais íntimos, nossas memórias, nosso recato, nossos desejos secretos.

Sempre que se comprova que ler é uma grande alegria, fico assim, comovida.

Essa estréia merece festa — me perdoem o juízo, (Deus é quem tudo julga) — mas é assim que eu penso, me embriaguei com esta história, estou muito agradecida, e agora ela é toda sua, deleite-se.

Adriana Falcão

Trecho do livro

Entretanto, Amâncio Amaro acordou do sono intranqüilo guardando ainda a terrível dúvida: não sabia ao certo se ele era ele mesmo, ou se era outro. Estava deitado no raso do chão, os braços abertos em cruz, suado, debaixo do sol e de todo o céu, a boca cheia de terra, e não fazendo idéia do tempo que estava ali. Não sabia se horas, se dias, se nada. Voltava de suas andanças por terras nunca antes sonhadas do mesmo jeito que partira: sem saber. Sem saber de si ou do outro. Nem se eram de fato a mesma pessoa.

Piscou os olhos, virou para o lado. Viu em primeiro plano, a poucos centímetros do rosto, uma carreira de saúvas. De perto, eram gigantes. Uma das formigas parou e olhou para ele. Na retina de Amâncio, a formiga via a formiga. Depois entrou de volta na fila e seguiu adiante com as outras. Estavam ocupadas carregando as folhas e gravetos com que cultivam o fungo que as alimenta. Amâncio tinha seu fungo, lá dentro, no seu próprio formigueiro. Em meio a um amor mal curado e alguns sofrimentos outros, Amâncio Amaro trazia aquela angústia supurando no coração. Já não suportava viver vida que não fosse sua, tomada emprestada por engano, desviada de um outro que a merecia menos do que ele.

Sua recente viagem por terras estranhas em nada ajudara, exceto por essa convicção de agora. De que este então era o mundo, este aperto assim que não sai da gente, um pensamento teimoso, premendo e cingindo o que é de dentro. Um agora que não se acaba de repente, como soluço que não passa com um susto, uma vez que soluço é também susto, doença e cura ao mesmo tempo. Veneno-antídoto. Amásio amargo.

Levantou com enorme esforço e viu que estava nu. Cuspiu. Passou a mão na nuca, sangrava um pouco. Olhou a pedra pequena no chão, vermelha, manchada também. Como não tinha queixo, era esta a única parte do corpo que não lhe doía. Limpou as mãos machucadas e imundas de terra, testou as juntas, contou os estalos, cinco — tudo certo — e tentou assobiar pela milésima vez. Outra coisa que nunca saberia, assoviar. Ou assobiar. Assovi ou assobi, também não sabia. Só fazia coisa que soubesse chamar o nome, senão não. Desistiu.

Virou-se e viu o pé de algaroba lá longe, mais adiante um cachorro latindo e o verde do mato tangendo o sol. Estava no mesmo lugar, graças a Deus. À sua frente, a subida para o alto Brejo das Contendas, onde era possível ficar mais perto do céu e sentir o frio úmido das bananeiras e dos partidos de cana-de-açúcar. Ao seu redor, o povoado de Santana era todo plano. Altura de chão, seco e vermelho e poeira. Mundo virando pó.

Olhou para cima e preferiu esquecer os devaneios de grandeza. Estava surrado, doído, acabado. Deu um passo para trás, afastando-se do açude.

Esquecer é que não podia. Mais um passo atrás e um umbuzeiro surgiu à sua direita, no limite da paisagem. Conheceu-o pela ponta dos galhos que via no canto do olho. Outro passo atrás e o umbuzeiro entrou mais na vista. Esquecer é que era ruim, esquecer.

Outro passo e mais outro, o umbuzeiro inteiro na frente dele, os umbus amarelando de maduros. Continuou voltando para casa de costas, vendo a paisagem por trás — o avesso de tudo: mais bonito e mais bem aprestado que o direito. Começou a correr, o tronco querendo tombar para trás mas as pernas correndo ainda mais para garantir que não. Enquanto corresse, desviaria da queda. E ia vendo as coisas fugindo, ficando pequenas, girando-se embora. Árvores, açude, cachorro, pedra, capim. Tudo passando como se ele parado.

Amâncio Amaro nunca tinha visto a vida desse outro jeito, pelo certo, tão linda. Quase chora. Quase-quase. Pois era assim, de oposto, com as coisas mais indo do que vindo, que pensou estar em maior acordo com o mundo. Pela primeira vez, em seus quatorze anos, conformou-se com as coisas de revés, vida à revelia. Correu o mais que pôde, as pernas bambas de felicidade e pressa. O mundo não roda ele mas ele roda o mundo. Conseguiu. Mas sem ao menos suspeitar de que ele é ele — mesmo se lido de trás para frente.

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